Há dois anos, Kauany Stefan colocava os pés na fábrica da Canguru Embalagens pela primeira vez. Com os 18 anos recém completados, a jovem encarava os desafios do primeiro emprego com insegurança. O sentimento era reforçado pelo fato de ela ser surda, comunicando-se apenas por sinais. “Eu tinha medo de não ser entendida” diz ela, ao complementar: “tudo o que sei sobre trabalho, hoje, aprendi aqui. O que mais gosto são as experiências que tenho todos os dias. Eu venho empolgada, sou feliz na fábrica”, pontua a jovem.
A empresa, localizada no bairro Próspera, em Criciúma, conta hoje com 27 Pessoas com Deficiência (PCD’s) no quadro de colaboradores; entre eles, surdos, autistas e pessoas com deficiência intelectual. Ramarone Vieira é um exemplo. Surdo, ele trabalha no setor administrativo há quase dois anos. “Eu fui acolhido, todo mundo teve paciência comigo e adaptações foram feitas para que eu pudesse me sentir bem”, conta o profissional, que havia trabalhado por 10 anos em outra empresa. “Eu desempenhava uma função diferente e quando vim pra cá, tive que reaprender tudo do zero. Deu certo, adoro estar aqui”, explana ele.
A analista de RH da Canguru, Maiara Fogaça, conta que a inclusão de PCDs vai muito além do que uma obrigação legal. “Nós implementamos um plano de ação para acolher esses colaboradores com ainda mais qualidade. Oferecemos um curso básico de Libras para toda a equipe, de aproximadamente quatro meses de duração, que já formou 60 pessoas, além de promover palestras especialmente com o Instituto Diomício Freitas, a fim de mostrar que PCD’s são tão capazes quanto qualquer outro profissional”, explica.
A empresa também criou grupos de WhatsApp para comunicação em Libras e instalou displays no refeitório com tradução em vários idiomas, incluindo a linguagem de sinais. “As adaptações são feitas conforme sentimos necessidade, e tudo o que está ao nosso alcance é colocado em prática para tornar o ambiente o mais inclusivo possível”, diz Maiara, ao complementar: “Nosso objetivo é garantir que a inclusão seja uma realidade, não apenas um discurso”, conclui.
Eliseu Maria Tereza compactua com a afirmação. Portador de deficiência intelectual, ela lembra quando deixou de trabalhar na fábrica para ir para o setor de limpeza. “Eu pedi para trocar e eles aceitaram. Prefiro ficar na rua, ao ar livre, andando. Pra mim, aqui é uma casa”, diz ele, que é complementado por Tatiani Pizzoni, também surda. “Me senti incluída por ter colegas que falam em libras. Nestes quase dois anos de emprego, fiz amigos e me desenvolvi muito”.
Desafios para a inclusão de PCDs no Brasil
Embora iniciativas como as da Canguru Embalagens sejam um passo importante para a inclusão, os desafios para as PcDs no Brasil ainda são significativos. Dados do módulo Pessoas com Deficiência da Pnad Contínua mostram que, até o fim de 2022, cerca de 5 milhões de pessoas com deficiência estavam na força de trabalho, enquanto 12 milhões estavam fora da força de trabalho no Brasil.
Dos 99,3 milhões de pessoas ocupadas no Brasil em 2022, 4,7% eram pessoas com deficiência. Entre as mulheres ocupadas, 5,4% tinham deficiência e, entre os homens, 4,1%. O Sudeste, apesar de ter o maior contingente de pessoas com deficiência ocupadas (1,8 milhão de pessoas), foi a região com a menor participação (4,0%). Norte (5,8%) e Nordeste (5,7%) tiveram as participações mais elevadas de pessoas com deficiência no total de ocupados.