Há pouco mais de cinco anos, lideranças de Londrina buscavam aprender em Santa Catarina os caminhos para fomentar o ecossistema de inovação e em 2023 chegou a vez dos catarinenses saírem encantados com o trabalho desenvolvido na segunda maior cidade do Paraná. Na condição de membro do Comitê de Implantação do CRIO – Centro de Inovação de Criciúma, estive na missão organizada pelo Sebrae SC com representantes de todas as regiões do estado para conhecer a experiência dos paranaenses, na teoria e na prática.
Veja também a cobertura da Rota da Inovação publicada nos destaques do perfil da Alfa Comunicação e Conteúdo no Instagram.
A receita do sucesso do progresso de Londrina envolve um amplo planejamento e a sinergia dos atores do ecossistema, batizado recentemente com o nome de Estação 43. Este também é o nome da organização social (OS), constituída por representantes de setor produtivo, poder público e academia, responsável por delinear as políticas de promoção do desenvolvimento econômico e da inovação no município. Sob este grande “guarda-chuva” estão 10 governanças setoriais e transversais que planejam e executam ações nos seus respectivos segmentos (agronegócio, eletrometalmecânico, química e materiais, saúde, tecnologia da informação e comunicação (TIC), construção civil, instituições de ensino superior, turismo, audiovisual e comércio) .
A Estação 43 e as governanças, nas palavras do consultor de ecossistemas de inovação do Sebrae de Londrina e nosso cicerone nas visitas, Heverson Felicidano, reúnem os “empreendedores cívicos” e têm a missão de “escrever os enredos” para os atores, os empreendedores empresariais e políticos executem. “Esta foi a forma que nós encontramos de acelerar o processo de desenvolvimento do ecossistema de inovação. Um modelo construído com referências de outros lugares, mas adaptado à nossa realidade”, frisou.
E o “elenco” de atores pensando e praticando inovação em Londrina envolve mais de 400 lideranças e empreendedores. Para se ter uma ideia, o APL TIC, governança setorial de tecnologia da informação e comunicação, reúne-se toda sexta-feira pela manhã, com média de participação de 30 pessoas (de empresas, universidades e órgãos públicos). Nos outros segmentos, os encontros ocorrem também semanalmente ou, no máximo, a cada 15 dias.
A constância desses encontros, além do alinhamento e do maior tempo para o desenvolvimento das ações e eventos, faz com que as pessoas se conheçam mais, desenvolvam a confiança entre si, sublinhou Heverson durante as visitas. Dessa forma alimenta-se a impressionante sinergia do ecossistema. Nos locais onde estivemos, nas falas dos porta-vozes das governanças, ficou muito claro como há um ambiente de comunicação e conexões.
A Rota da Inovação desenhada pelo Sebrae mostrou algum dos resultados materializado por esses movimentos. Começando pelo Tecnocentro, um centro que dá vida a um imóvel abandonado há mais de 10 anos que vai ser gerido pela Estação 43. Depois conhecemos os case da Arbo, startup do ramo imobiliário, e do Construhub (ambiente de inovação criado pelo Sindicato da Construção Civil com incubadora de negócios e outras iniciativas interessantes) e a Intuel, incubadora da Universidade Estadual De Londrina (UEL), um dos exemplos de como a pesquisa acadêmica participa e catalisa o ecossistema.
No segundo dia visitamos o SRP Valley, a aldeia principal do ecossistema de inovação do agronegócio de Londrina. Inspirada em ambientes como Sapiens Parque de Florianópolis, a Sociedade Rural do Paraná (SRP) ressignificou o Parque de Exposições Governador Ney Braga, onde ocorre uma das maiores feiras agropecuárias do país, a Expo Londrina. O local que historicamente fica ocioso boa parte do ano está ganhando vida, com a presença de incubadora, empresas de tecnologia, o hub Cocriagro e uma fazenda modelo para demonstrações e experimentações. Um grande celeiro fomentado pela tradicional associação de capital financeiro e de networking invejáveis. Como dito na apresentação, por meio da SRP, o ecossistema de inovação de Londrina está “a um telefonema de qualquer grande player do agro brasileiro”.
Saímos do agro para o industrial, conhecendo o único hub de inteligência artificial do Senai no Brasil. O espaço representa uma conquista de Londrina e constitui uma das iniciativas e serviços da instituição que se conecta com os segmentos de TIC e o setor secundário. O fechamento do roteiro nos colocou em contato com representantes de todas as governanças em um encontro no Sebrae de Londrina. A ocasião nos fez reforçar o entendimento de como está organizado e concatenado o ecossistema de inovação da cidade. O alinhamento dos discursos corroborou a sinergia constatada nos dois dias. Em muitas oportunidades, os londrinenses ressaltaram o quanto Santa Catarina foi fonte de inspiração. Do lado catarinense, a percepção uníssona compartilhada durante a viagem de volta foi o quanto temos a aprender com eles.
Um pouco mais sobre o planejamento
Os fundamentos para a organização da Estação 43 estão em um amplo estudo realizado pela Fundação Certi, de Florianópolis, em 2017. O instituto fez um minucioso mapeamento do ecossistema, seus atores e identificou os setores com maior potencial de inovação. Em princípio foram cinco: agro, eletrometalmecânico, saúde, TIC e química e materiais. Este foi o ponto de partida para a constituição das primeiras governanças setoriais.
A movimentação “mexeu com o brio” de outros setores, conforme relataram Heverson e outras lideranças que conversaram conosco. Para não “ficar para trás” na esteira do desenvolvimento, outros segmentos passaram a se organizar, formalizaram suas governanças e desde então também atuam em conjunto.
Cada governança estimula e fomenta seu segmento como representação institucional, mapeando demandas e oportunidades para o crescimento e também na organização de eventos. Todas possuem um grande evento âncora com temática de inovação por ano e nos outros períodos múltiplas iniciativas ocorrem para fomentar novas ideias e atrair mais pessoas, como Ideathons, hackatons e encontros.
Também estamos no caminho
As visitas em Londrina em diversos momentos mostravam os exemplos de inspiração, mas também a sensação de como temos potencialidades, observando o ecossistema de Criciúma. Pessoas qualificadas, instituições de ensino de alto nível, entidades comprometidas, o olhar do poder público cada vez mais sensível ao tema e, sobretudo, ações, nós temos por aqui também. Da mesma forma que no Sul de Santa Catarina, por lá há uma série de desafios que foram e estão sendo enfrentados. Ficam como principais inspirações, resumindo em palavras: planejamento, sinergia e constância. E a constatação principal de que a semeadura se dá por meio da comunicação.
Artigo por João Pedro Alves.